Dos 93 anos, Irmã Silvia dedicou 60 para "reconstruir" São Julião
Não poderia ser diferente: para comemorar seus 93 anos, a Irmã Silvia Vecellio passou a manhã do aniversário sendo homenageada no espaço que funde sua história à dela, o Hospital São Julião.
Não poderia ser diferente: para comemorar seus 93 anos, a Irmã Silvia Vecellio passou a manhã do aniversário sendo homenageada no espaço que funde sua história à dela, o Hospital São Julião. Ao todo, são seis décadas dedicadas à instituição que levava o nome de sanatório. "Comandando" o caminho, foi ela quem conseguiu unir pessoas e angariar fundos para transformar a narrativa. "O São Julião é o presente que Deus me deu". Avessa a entrevistas e homenagens, a irmã deixou apenas essa frase em um vídeo institucional apresentado durante a cerimônia que incluiu a entrega do prêmio nacional Zilda Arns. Sentada em meio ao público que assistia à programação, Silvia compartilhou sorrisos durante apresentações musicais e recebeu a honraria por ali mesmo. Instituído pela Câmara dos Deputados, o prêmio tem como objetivo homenagear pessoas e instituições que atuam na garantia e na ampliação dos direitos das pessoas idosas. A indicação da irmã veio através do deputado federal Geraldo Resende e, oficialmente, foi entregue em julho para uma representante de Silvia. Na época, a irmã não conseguiu viajar e, por isso, a solenidade foi "repetida" como um presente de aniversário nesta segunda-feira (19). Presente para refazer a entrega, Resende destacou que quis indicar a irmã por ver uma proximidade entre a história dela e de Arns. "Quando tive oportunidade, ousei indicar a irmã por sua história. Zilda Arns foi uma higienista, médica pediatra, fundou a pastoral da criança e também a pastoral do idoso. Ela dedicou sua vida ao trabalho e faleceu no terremoto do Haiti. A Irmã Silvia também dedicou a vida e continua dedicando ao São Julião", destaca Resende. Pensando sobre a evolução do hospital, ele complementa dizendo que hoje o espaço é referência no atendimento de pessoas idosas, mas que o próximo sonho é que o complexo tenha um atendimento realmente especializado para esse público. "A história da irmã Silvia com o São Julião começou em 1964, quando o hospital ainda era chamado de sanatório São Julião, um lugar sem estrutura adequada, em ruínas, para onde eram levadas as pessoas com hanseníase que ainda sofriam muito preconceito e ali viviam confinadas até a morte", descreve a instituição. Inicialmente, Silvia Vecellio saiu da Itália para ser professora em Mato Grosso do Sul e, no fim das contas, como define a equipe do hospital, "encontrou a verdadeira vocação: ajudar as pessoas doentes que viviam sem atendimento adequado e eram alijadas da sociedade". Desde então, a irmã passou a angariar fundos e se dedicar a tentar mudar o São Julião para transformar "aquele local de dor e preconceito em um espaço de saúde digno e acolhedor". Presidente do Hospital São Julião, Carlos Melke explicou que a homenagem prestada é importante por ser um presente para o Estado. "É o trabalho de uma vida dedicada ao Hospital São Julião. Foi um hospital com muito sofrimento, em que se segregavam os hansenianos e daqui muitos saíam mortos porque não tinha cura. Ela assumiu o hospital e reconstruiu o São Julião", defende. Hoje, não há mais internos de hanseníase, conforme explica o presidente, e houve a necessidade da irmã reinventar mais uma vez o local. "Nós somos a terceira residência de oftalmologia do país, primeiro hospital lixo zero da América Latina e um exemplo de que quando você quer fazer as coisas da forma certa, com honestidade e caráter, você consegue fazer da melhor forma possível". E, para complementar o contexto para se entender o contraste gerado entre o início da história do hospital com os dias atuais, o Sanatório São Julião integra um conjunto de 33 asilos-colônia que atenderiam os doentes. Inicialmente, havia verba federal suficiente para manter os padrões idealizados, mas houve a transferência para o Estado e, consequentemente, a administração falhou e a infraestrutura decaiu cada vez mais. "O resultado foi o gradativo abandono da direção e dos funcionários. A população de 300 doentes foi sendo deixada à própria sorte, em decorrência da falta de assistência médica, de cuidados básicos de enfermagem e de alimentação, cada vez mais escassa e de baixíssima qualidade, além da ausência de manutenção que, deteriorou prédios, rede hidráulica, sanitária e elétrica", é informado no institucional do hospital. Esse era o cenário encontrado pela Irmã Silvia, então professora do Colégio Auxiliadora. Aos domingos, ela trabalhava no Educandário Getúlio Vargas (que era um orfanato para os filhos dos hansenianos) e, a pedido das crianças que pediam notícias dos pais, ela foi até o São Julião. É a partir desse início que a história da italiana se conectou com o que se tornaria sua missão de vida. Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui) . Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News .
Fonte: Campo grande News