Pessoas não cansam de nos decepcionar - mundo atual de relações líquidas

As relações humanas são complexas e multifacetadas, envolvendo uma mistura de emoções, expectativas e interações. No entanto, é comum ouvir desabafos sobre como as pessoas podem nos decepcionar constantemente. Muitas vezes, essa decepção está enraizada em atitudes superficiais, que revelam uma falta de profundidade e comprometimento nas relações. Superficialidade pode ser descrita como a tendência de valorizar aparências, status social ou benefícios materiais acima de qualidades mais profundas, como a integridade, a empatia e a lealdade. Quando as pessoas se concentram apenas em aspectos externos, frequentemente deixam de lado o que realmente importa nas relações: a conexão genuína e o cuidado mútuo. Essa superficialidade pode se manifestar de várias maneiras. Nas amizades, pode surgir na forma de relações interesseiras, onde a companhia é valorizada apenas enquanto houver benefícios tangíveis. Nas relações amorosas, pode se traduzir em uma busca incessante por parceiros que atendam a padrões estéticos ou sociais, em vez de se buscar uma conexão emocional verdadeira. No ambiente de trabalho, pode se refletir em colegas que priorizam a ascensão profissional a qualquer custo, sem consideração pelo impacto de suas ações nos outros. A decepção surge quando percebemos que essas relações superficiais não têm a solidez necessária para enfrentar desafios ou crises. Quando a vida nos testa, essas conexões frágeis frequentemente se desfazem, revelando a falta de compromisso e profundidade. Isso pode ser especialmente doloroso quando investimos tempo e emoções acreditando na autenticidade de uma relação, apenas para descobrir que ela era sustentada por motivações superficiais. Mas por que, afinal, as pessoas parecem não cansar de nos decepcionar dessa maneira? Uma razão pode ser a sociedade contemporânea, que frequentemente valoriza o superficial em detrimento do essencial. Redes sociais, cultura de celebridades e um foco constante no consumo e na aparência podem reforçar a ideia de que o superficial é o mais importante. Além disso, a pressa e o ritmo acelerado da vida moderna podem dificultar a construção de relações profundas e significativas. Para lidar com essa realidade, é crucial desenvolver uma percepção mais aguçada sobre as pessoas ao nosso redor e os valores que realmente importam para nós. Isso envolve prestar atenção às ações e padrões de comportamento dos outros, em vez de se deixar levar apenas por palavras ou aparências. Também é essencial cultivar e valorizar relações baseadas na autenticidade, onde há reciprocidade, respeito e um compromisso genuíno. A decepção faz parte da experiência humana, mas ao nos cercarmos de pessoas que compartilham nossos valores e que demonstram, através de suas ações, uma profundidade de caráter, podemos minimizar o impacto das superficialidades alheias. É um processo contínuo de aprendizado e crescimento, que exige autoconhecimento e discernimento, mas que, no final, nos leva a relações mais gratificantes e duradouras. (*) Cristiane Lang é psicologa clínica. Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.