"Pisando na memória dela": Filha de Dorcelina reage à volta de assassino

De longe, Jéssica Winnye Folador, de 34 anos, viu mais uma vez o nome do mandante do assassinato de sua mãe, Dorcelina Folador, estampar as manchetes. Vinte e cinco anos depois de encomendar o crime da ex-prefeita de Mundo Novo, Jusmar Martins da Silva voltou a aparecer, agora por receber aval para ocupar um cargo público no município, a 331 km da Capital. Filha mais velha de Dorcelina, Jéssica mora há seis anos em Barcelona, na Espanha. Diz que escolheu um novo país, distante de Mundo Novo, por medo constante de sofrer algum mal. "Preferi recomeçar longe de tudo", afirma. Em entrevista ao Campo Grande News , a contadora falou sobre o retorno de Jusmar Martins a um cargo público. Para ela, é um direito dele se ressocializar e seguir em frente, mas quando isso acontece em Mundo Novo, o debate avança para a esfera moral e ética. Não desejamos o mal a ele, mas quando insiste em voltar ao mesmo lugar e trabalhar como se nada tivesse acontecido, está mais uma vez matando minha mãe e pisando na memória dela", destaca. Jéssica tinha oito anos quando a mãe foi assassinada em casa, em outubro de 1999. Foram seis tiros nas costas, disparados pelo pistoleiro Getúlio Machado, contratado por Jusmar para cometer o crime contra a ex-aliada de campanha. Ambos foram condenados a 18 anos de prisão em 2003 pelo assassinato brutal. Ao reconhecer que Jusmar tem o direito de seguir em frente, Jéssica contrapõe dizendo que sua família nunca teve essa mesma oportunidade. "Nunca tivemos esse direito. Nunca pude viver sem remédios, sem traumas, nunca pude apagar aquela cena da minha memória. A possibilidade de encontrá-lo causa pânico em mim e em nossa família", declara. Ela compartilhou com a reportagem uma das poucas fotos que tem da infância ao lado da mãe, feita quando tinha quatro anos. "Infelizmente, não temos nenhuma foto com minha irmã e ela juntas", conta. A irmã mais nova de Jéssica ainda mora em Mato Grosso do Sul, em Dourados. Sobre a mãe, Jéssica guarda algumas lembranças. "Poucas, porque ela viajava muito a trabalho. Mas lembro de bastante coisa. Já minha irmã, não muito, porque era bem pequena", conclui. Pedido de exoneração - Condenado pelo assassinato de Dorcelina Folador, Jusmar Martins da Silva pediu exoneração do cargo, conforme publicação feita neste sábado (8) pelo município. Em nota, a prefeitura esclareceu que ele fez a solicitação para "não causar transtornos". No documento enviado ao governo de Mundo Novo, Jusmar disse que desejava apenas se reintegrar à sociedade. A exoneração ainda não foi publicada oficialmente no Diário Oficial de Mundo Novo nem no da Assomasul (Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul). O caso Dorcelina - A ex-prefeita era paranaense, mulher com espírito de liderança desde pequena e pessoa com deficiência. Virou ícone da luta pela igualdade no acesso à terra em Mato Grosso do Sul. Foi ex-integrante do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e uma das fundadoras do PT em Mundo Novo. Dorcelina foi morta na varanda de casa com seis tiros. O crime teve repercussão nacional. Era a noite de 30 de outubro de 1999. Na época, ela cumpria o primeiro mandato como prefeita e acumulava desafetos por tentar romper a ligação do poder público municipal com o crime organizado na fronteira com o Paraguai. Jusmar Martins da Silva era próximo de Dorcelina. Coordenou sua campanha eleitoral e foi nomeado secretário municipal de Agricultura e Pecuária, mas exonerado pouco tempo depois. A Justiça o condenou a 18 anos de prisão em 2003 por ser o mandante do assassinato brutal. Quem atirou contra Dorcelina foi o pistoleiro Getúlio Machado, também condenado a 18 anos de prisão. Ao todo, seis pessoas foram condenadas a 72 anos de prisão pela morte da ex-prefeita. Mas, dez anos após o crime, uma decisão polêmica do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul libertou os envolvidos. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .