Campo grande News
Vivemos em uma sociedade que, de muitas formas, incentiva a individualidade. As redes sociais promovem a exaltação da própria imagem, enquanto a cultura do "self-care" muitas vezes coloca o foco em nós mesmos, nossas necessidades e desejos. Em certo nível, isso é saudável: é essencial saber cuidar de si e ter amor-próprio. Contudo, há uma linha tênue entre o amor próprio equilibrado e a síndrome do alecrim dourado, termo popular que descreve pessoas que acreditam que o mundo gira em torno delas. O que é a síndrome do alecrim dourado? O nome "alecrim dourado" remete à ideia de uma flor especial, única e insubstituível. Na prática, as pessoas com essa síndrome acreditam que são singulares de maneira tão extrema que exigem um tratamento diferenciado do restante do mundo. Elas se veem como o centro das atenções, e qualquer situação ao seu redor deve, de alguma forma, ser ajustada às suas expectativas e necessidades. Essas pessoas podem se ofender com facilidade, acreditando que qualquer comentário ou atitude seja uma ofensa pessoal. Tendem a monopolizar conversas, fazer drama por questões mínimas e esperar que o mundo ao seu redor mude para atendê-las. Características de quem sofre dessa síndrome Pessoas que manifestam a síndrome do alecrim dourado frequentemente apresentam comportamentos que revelam uma visão distorcida sobre seu lugar no mundo. Algumas características incluem: 1. Necessidade constante de atenção: Elas esperam que os outros estejam sempre disponíveis para escutá-las, sem se preocupar em oferecer o mesmo em troca. 2. Dificuldade em aceitar críticas: Qualquer crítica, por menor que seja, é tomada como uma ofensa pessoal. 3. Egocentrismo: Ao interagir com outras pessoas, elas sempre tentam trazer o assunto de volta para si, minimizando as experiências alheias. 4. Sensação de injustiça: Acreditam que estão sendo tratadas de forma injusta ou desvalorizadas sempre que algo não ocorre da maneira como esperavam. As causas desse comportamento A síndrome do alecrim dourado pode ter raízes em diversos fatores. Muitas vezes, ela nasce de uma educação que supervaloriza o indivíduo, criando uma ideia de que ele é especial e merece ser tratado de forma diferenciada. A falta de frustrações durante a infância e adolescência pode impedir que a pessoa desenvolva a capacidade de lidar com "nãos" ou com situações em que não é o centro das atenções. Além disso, o ambiente digital, com a constante necessidade de validação nas redes sociais, pode intensificar essa percepção de que todos estão sempre observando e julgando. Publicações, likes e comentários reforçam a ideia de que tudo o que é feito tem uma audiência e que, portanto, merece destaque. As consequências para os relacionamentos Esse comportamento pode ser extremamente prejudicial para os relacionamentos, tanto pessoais quanto profissionais. Pessoas que constantemente colocam suas necessidades em primeiro lugar e esperam um tratamento diferenciado acabam sendo vistas como egoístas e manipuladoras. Relacionamentos com elas podem se tornar exaustivos, pois quem está ao redor frequentemente sente que precisa andar sobre ovos para evitar ofensas ou dramas desnecessários. Nos ambientes de trabalho, esse comportamento pode gerar conflitos, já que a colaboração e o trabalho em equipe exigem que todos sejam tratados de maneira equitativa e respeitem o espaço e as opiniões dos demais. Como lidar com a síndrome do alecrim dourado? Se você convive com alguém que apresenta essas características, a comunicação assertiva é essencial. Estabelecer limites claros e demonstrar que o mundo não gira em torno de uma única pessoa pode ajudar a quebrar esse ciclo de egocentrismo. Ao mesmo tempo, é importante não alimentar comportamentos dramáticos ou manipulatórios, mostrando que cada indivíduo tem suas próprias necessidades e que a atenção deve ser compartilhada. Para aqueles que se identificam com esses comportamentos, a autoconsciência é o primeiro passo. Refletir sobre como suas ações afetam os outros e praticar a empatia são formas eficazes de combater essa síndrome. A percepção de que todos têm suas próprias batalhas e que não somos o centro do universo pode levar a uma vida mais equilibrada e a relacionamentos mais saudáveis. A síndrome do alecrim dourado é um reflexo do excesso de foco em si mesmo, frequentemente exacerbado por uma cultura que valoriza a individualidade acima de tudo. Embora seja importante reconhecer nosso valor e cuidar de nós mesmos, também é fundamental lembrar que o mundo não gira ao nosso redor. A chave para uma convivência harmônica e para relacionamentos saudáveis está em equilibrar o amor-próprio com a empatia e o respeito pelo espaço e as necessidades dos outros. Afinal, nem tudo é sobre você. (*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo. Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.