Na fotografia, Kaique consegue se ver e mostrar que as trans resistem
"A fotografia, o audiovisual tem me salvado.
"A fotografia, o audiovisual tem me salvado. Já me tirou de muitos lugares e hoje eu posso dizer que é isso o que me ajuda, o que faz eu me ver", resume Kaique Andrade. Ao todo, fazem dois anos que ele deixou o interior de São Paulo para viver em Campo Grande e, por aqui, descobriu que focar seu trabalho em pessoas transsexuais e travestis era a forma de fazer o cotidiano valer. Nas redes sociais, o nome do seu perfil faz muito sentido: "transgrafias", grafias de pessoas trans, escritas por elas, feitas por elas e para elas. Isso tudo enquanto o Brasil continua sendo um país que mantém índices altos de violência contra essas pessoas. Considerando esse cenário, existir pessoas que façam produções e trabalhem para construir representatividade faz toda diferença, como explica Kaique. Quando comecei dentro do audiovisual e da fotografia, sempre me inspirei e tive foco em pessoas trans e travestis. Todo o meu trabalho envolve pessoas como eu, que sou um transmasculino, e o intuito de criar o transgrafias é inspirar que outras pessoas se inspirem também e entendam que esse mundo do audiovisual também é nosso, destaca. Preocupado em ocupar os espaços, Kaique faz um paralelo entre o que vivia em Barretos e os cenários de Campo Grande. "Quando cheguei aqui, foi meu primeiro contato com a arte porque no interior de São Paulo é muito escasso. Quando vim para cá, conheci o meio artístico e acho que a gente está avançando". Na prática, ele cita o "Culto das Travestis", espetáculo que estreou nesta sexta-feira (30) e que Kaique integra como o responsável pelo audiovisual. Para ele, ter conquistado um edital tão forte é exemplo de como os passos têm sido dados. "É um projeto de pessoas trans e travestis sendo reconhecido como artístico". Voltando para a fotografia, ele detalha que sempre gostou de brincar com as imagens, mas a profissão realmente veio há pouco. E, nesse contexto, hoje a fotografia é uma forma de documentar a força e também as dores. "As pessoas enxergam nossos corpos como aberrações, como coisas de outro mundo. Mas o que queremos passar é que a gente também precisa ser olhados, precisamos ser olhadas. E isso mostra como somos nada para muitos da sociedade". Outro ponto citado por Kaique é a necessidade de inspiração e referências para executar os trabalhos. Isso porque, para além da técnica, é necessário representar as sensibilidades que existem na pauta. "Temos que mostrar o sensível dos nossos corpos, então é especial e importante demais para mim fazer esse trabalho. Mostrar para as pessoas que, para além de tudo, somos pessoas, temos família, temos casa, trabalho, profissão". Nesse sentido, ele completa dizendo que mostrar o cotidiano, compartilhar pessoas trans e travestis vivendo seus cotidianos, exige e imprime uma força que para muita gente se vincula a algo que nem é pensado: o fato de poder ser, de poder existir. Para acompanhar Kaique, seu perfil no Instagram é @transgrafias. Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui) . Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News .
Fonte: Campo grande News