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A viabilidade da Universidade Indígena em Campo Grande

Sem desconsiderar ou menosprezar as lutas históricas dos povos indígenas nas demais localidades do estado do Mato Grosso do Sul, Campo Grande surge com vários pontos favoráveis para que aqui seja inaugurada a Universidade Indígena sul-mato-grossense.

Por Propaga News em 08/07/2024 às 14:40:05

Foto: G1 - Globo.com

Sem desconsiderar ou menosprezar as lutas históricas dos povos indígenas nas demais localidades do estado do Mato Grosso do Sul, Campo Grande surge com vários pontos favoráveis para que aqui seja inaugurada a Universidade Indígena sul-mato-grossense. No atual momento, no qual há um debate acirrado de onde devam ser instaladas essas universidades indígenas Brasil afora, a capital morena em nada deixa a desejar quando comparada a outras cidades no estado que surgem como candidatas para sediar essa importante e singular instituição de ensino superior. Segundo dados trazidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio do Censo 2022, a capital sul-mato-grossense possui 18.439 indígenas, sendo o município com a maior população de povos originários no estado. Campo Grande, dentre as 27 capitais no Brasil, tem a quarta maior população de indígenas, ficando atrás apenas de Manaus, Salvador, Boa Vista e São Paulo. Campo Grande tem 24 comunidades indígenas, sendo que oito delas já são reconhecidas pelo poder público municipal local como aldeias urbanas, duas estão em processo de reconhecimento e duas outras com pedidos já realizados para que se tornem também oficializadas e assim reconhecidas. A cidade tem há décadas um movimento indígena em contexto urbano bem articulado e consolidado, com vários frutos já colhidos. A realidade atual do Conselho Municipal dos Direitos e Defesa dos Povos Indígenas (CMDDI) e da Comissão Permanente das Causas Indígenas da Câmara Municipal de Vereadores de Campo Grande reforça não somente a importância do movimento indígena no contexto urbano local, mas também todo um rasto do trabalho empreendido pelos/as indígenas no sentido de que não ficassem mais invisibilizados quanto às suas histórias de existência e de resistência de décadas em solo campo-grandense. Esta é uma realidade que reforça a importância de se trazer para uma cidade com forte presença atual e histórica de décadas dos povos originários no contexto urbano local uma Universidade Indígena. O contexto urbano local e atual constitui-se também de outros povos presentes por aqui, oriundos dos mais variados lugares do Mato Grosso do Sul, de outros estados do Brasil e também de origem estrangeira. Campo Grande, em passos amplos, passa a expressar com maior vivacidade a força da presença indígena em sua continuidade de construção histórica, sociedade e território. A cada ano, inúmeras novas famílias chegam a Campo Grande advindas dos territórios tradicionais, fenômeno social pelo qual se inserem no contexto urbano local crianças, jovens, adultos, anciãos/ãs portadores de uma imensa e rica pluralidade de histórias, culturas e idiomas. Quaisquer que sejam os motivos que têm trazido esse contingente cada vez maior de indígenas para a cidade, há uma realidade bem atual de que a população indígena na capital morena só tende a aumentar, como já ocorre há anos. Assim, as políticas públicas voltadas aos povos originários necessitam ser bem presentes e pontuais, sendo incluídas nesses aspectos as escolas para esses povos, as ações nas áreas de saúde, segurança alimentar e geração de renda, sendo inserida também nesse bojo, a realidade de uma Universidade Indígena. Campo Grande é possuidora também de uma característica que chama a atenção não somente estadual como nacional, o seu considerável número de crianças, adolescentes e jovens indígenas que, em poucos anos, já estará nas fileiras acadêmicas e na representação de uma demanda enorme por uma instituição de ensino superior que se volte para a manutenção das histórias, das culturas, dos saberes e dos idiomas que acompanham os/as indígenas, mesmo que estes/as estejam distantes de seus territórios de origem e hoje optem por se fixar no contexto urbano da capital do Mato Grosso do Sul. Há hoje também um número expressivo de universitários/as indígenas, estudantes dos mais variados cursos de graduação, estes/as que, em pouco tempo, estarão formados e, na sequência, ingressando em especializações e programas de pós graduações (mestrados e doutorados). Campo Grande tem também indígenas formados/as em pós graduações, mestres e doutores/as que podem cooperar no funcionamento de uma instituição de ensino superior como a Universidade Indígena, fora o grande chamariz que a capital sul-mato-grossense possui de ser uma cidade bem localizada no estado de Mato Grosso do Sul, no Centro Oeste brasileiro e no território nacional, ou seja, com raros impedimentos para que um/a indígena se desloque para cá com o objetivo de estudar ou mesmo trabalhar como docente ou na parte administrativa de uma instituição de ensino superior especialmente voltada aos povos originários. Recentemente, as comunidades indígenas de Campo Grande estiveram unidas em prol da criação da primeira escola indígena em solo campo-grandense, o que culminou em um documento que teve unanimidade por parte dos caciques e das cacicas locais, com assinaturas que formalizaram o pedido ao poder público municipal local da instalação dessa instituição. O processo inicial foi concluído com a entrega desse pedido ao poder executivo local, sendo aguardada para breve a construção dessa escola. Essa importante ação, na qual trabalharam juntas as comunidades indígenas de Campo Grande, mostra a força de articulação e de unidade que os/as indígenas no contexto urbano da capital morena podem também imprimir para que um pedido robusto pela criação da Universidade Indígena seja trabalhado e concretizado. As possibilidades de parcerias com instituições de ensino superior públicas, tais como a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), e também com instituições privadas de ensino superior se apresentam, da mesma forma, como argumentos bem estruturados para que Campo Grande sedie a Universidade Indígena em solo sul-mato-grossense. Campo Grande se localiza bem no centro do estado, possui rodovias estratégicas que a ela se ligam, tem vários/as pesquisadores/as, rede hoteleira bem consolidada, um aeroporto bem estruturado e equipado e é um local não distante de todos os territórios indígenas tradicionais, diferentemente de algumas capitais do Brasil que, por exemplo, estão a mil quilômetros de distância de algumas aldeias. A realidade de Campo Grande é muito favorável, quando comparadas as distâncias de determinadas aldeias presentes no estado até a capital sul-mato-grossense. Em um momento histórico atual, no qual os/as indígenas em contextos urbanos no Brasil passam a ser conhecidos/as, em suas histórias de existência e de resistência, de uma forma muito mais visibilizada, importante que essa Universidade seja instalada em uma cidade que tenha uma forte presença de indígenas em termos locais e, principalmente, urbanos, no caso, a capital do Mato Grosso do Sul Campo Grande. Ainda que muitos/as resistam à ideia e se articulem por meio de argumentos contrários à instalação da Universidade Indígena em Campo Grande, a capital sul-mato-grossense se apresenta, de forma firme e com bases sólidas, para que essa importante instituição de ensino superior finque suas raízes no solo da capital morena. Por mais que seja longa e árdua, essa importante campanha se inicia, para que os/as indígenas em contexto urbano local sejam contemplados com a chegada dessa Universidade em nossa cidade. Viabilidade rima com visibilidade e, nesse sentido, a campanha pela Universidade Indígena em Campo Grande trabalhará de forma consistente para mostrar à sociedade local, estadual, nacional e internacional que a viabilidade dessa instituição de ensino superior por aqui fortalecerá muito mais a visibilidade da presença dos/as indígenas no contexto urbano da capital sul-mato-grossense. * Kleber Gomes é indígena Terena, professor da Reme (Rede Municipal de Ensino) de Campo Grande/MS e mestrando no ProfHistória da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Fonte: Campo grande News

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