Campo grande News
Na tarde em que a maior parte dos investigados da Operação Cartão Vermelho optou pelo silêncio e o principal alvo, Francisco Cezário de Oliveira, 77, nem deixou presídio para depor, Aparecido Alves Pereira e Valdir Alves Pereira decidiram dar suas versões para os altos valores recebidos em suas contas bancárias advindos da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul. Diante dos questionamentos dos promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), dois dos quatro sobrinhos de Cezário presos pela operação, explicaram que trabalham para o tio, de maneiras diferentes. Aparecido diz ser agente de jogadores, por exemplo, enquanto Valdir fazia as vezes de secretário pessoal do presidente afastado da FFMS. "Meu cliente Aparecido presta serviço dentro da Federação, inclusive de organização de jogos de junto a Fundesporte [Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul], além de ajudar times, que às vezes não têm um dirigente, que não têm condições de trabalhar junto ao sistema da CBF [Confederação Brasileira de Futebol]. O Cezário delega isso para o Aparecido", explicou o advogado Júlio Cesar Marques. O defensor afirma ainda que como "prestador de serviço", Aparecido recebe R$ 3 mil mensais da FFMS. "Ele ganha também para fazer a organização documental para as prestações de contas para a Fundesporte. Ele é o responsável por fazer a organização e orçamentos das hospedagens e alimentação para clubes no interior, porque a federação tem uma parceria, que é documentada, para dar suporte para os times". Conforme informações trazidas pelo juiz Eduardo Eugênio Siravegna Junior, da 2ª Vara Criminal, na decisão que mandou prender o até então "invicto" presidente da FFMS e outras seis pessoas, a investigação aponta que Cezário "movimentava a maior parte do dinheiro desviado da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul nas contas de Aparecido Alves Pereira ("Cido"), Umberto Alves Pereira ("Beto"), Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira, entre outros". Além disso, conforme divulgado pelo Gaeco no dia 21 de maio, o esquema superfaturava diárias nos hotéis pagos pelo Estado em jogos do Campeonato Estadual de Futebol e os integrantes recebiam o "cashback", ou seja, uma devolução criminosa dos valores. Sobre este último ponto, Júlio Cesar Marques explica que o cliente fazia a cotação dos valores cobrados pelos hotéis da cidade onde aconteceriam os jogos e depois, ficava responsável pelos pagamentos. "Ele faz toda essa parte de orçamento e quem paga é a federação. O dinheiro era para ir diretamente para os clubes, mas como a maioria não consegue tirar certidão 'nada consta', então a federação fez esse convênio e paga essas hospedagens, diretamente ao hotel. Depois do orçamento aprovado, o hotel que ganhou a concorrência, mas não é a concorrência licitatória, é mais informal, mas é uma concorrência, o hotel gera a nota e a federação faz o pagamento". Para justificar os valores recebidos em suas contas bancárias, Valdir explicou que trabalha como espécie de assessor particular do tio. "O Cezário tem uma irmã acamada, que sofreu um AVC e tem 80 e poucos anos, e antes dessa irmã, tinha a própria mãe do meu cliente, que ficou na casa do Cezário. Então, ele trabalhava lá prestando assessoria e o tio transferiria dinheiro para ele fazer pagamentos, fazer as compras de supermercado. Ele era um 'faz-tudo' e a contribuição mensal que recebe é de R$ 2 mil. Cezário também ajuda a pagar o financiamento do veículo, porque é ele quem levar o Cezário em médicos, por exemplo". O advogado diz ter pedido a revogação das prisões dos dois Alves Pereira que atende e aguarda decisão judicial. Aaran Rodrigues, que representa Francisco Carlos Pereira, irmão de Aparecido e Valdir, diz que o cliente também deu "informações pertinentes" no depoimento e que a "permanência constante" do cliente na sede da FFMS, onde ia visitar o tio e os irmãos, foi o que despertou a atenção do Gaeco. "Ele prestava serviços eventuais para a federação. Por exemplo, às vezes ele realizava pintura na parte interna, uma manutenção, um serviço geral. Ele também fazia as organizações arbitrárias, era o responsável por isso, e nisso ele recebia uma quantia em dinheiro, tipo uma ajuda de custo". Silêncio – Guilherme Delmondes, advogado de Umberto Alves Pereira, o quarto irmão preso, e do filho dele Marcelo Mitsuo Pereira, que também está preso, os clientes optarem pelo silêncio. O advogado Pablo Buarque Gusmão, o gerente de TI (Tecnologia de Informação) da federação, Rudson Bogarim Barbosa, já havia dito que o investigado também não responderia às perguntas dos promotores. "Nesse momento, o meu cliente vai permanecer em silêncio, tendo em vista que nós não conseguimos habilitação em todos os procedimentos ainda". O presidente afastado da Federação de Futebol, Francisco Cezário também optou por exercer o direito ao silêncio e nem foi levado do Presídio Militar de Campo Grande à sede do Gaeco para interrogatório. De acordo com o advogado André Borges, a situação do cliente "é péssima". "O Cezário não vai comparecer hoje aqui. Isso já foi informado [ao Gaeco] agora de manhã. Nesta oportunidade, ele vai se valer do direito constitucional ao silêncio. Porque ele está preso, a situação dele é péssima nesse momento. Ele tem dificuldades em reunir documentação, apresentar testemunhas. Ele prefere então que, assim que for apresentada a denúncia, especialmente ele estando em liberdade, vai apresentar toda a sua defesa, com documentação, com justificativas para cada um dos itens que serão objeto da acusação", afirmou o advogado no início da tarde. Cartão Vermelho – A Operação do Gaeco apura desvio de R$ 6 milhões na FFMS, que recebe recursos do governo estadual e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). De acordo com o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), a ofensiva desbaratou organização criminosa voltada à prática de peculato e delitos correlatos na federação que comanda o futebol no Estado. Foram 20 meses de investigação. "Uma das formas de desvio era a realização de frequentes saques em espécie de contas bancárias da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul – FFMS, em valores não superiores a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), para não alertarem os órgãos de controle, que depois eram divididos entre os integrantes do esquema", informa a nota da promotoria. Nessa modalidade, verificou-se que os integrantes da organização criminosa realizaram mais de 1.200 saques, que ultrapassaram o total de R$ 3 milhões. O Gaeco pediu a prisão de 7 investigados e saiu às ruas de Mato Grosso do Sul no dia 21 para vasculhar 14 endereços em busca de provas do esquema. A investigação preliminar usou as quebras, autorizadas pela Justiça, dos sigilos telefônicos e bancários dos alvos. Após as oitivas e análise da documentação coletadas durante as buscas, o MP deve oferece denúncia à Justiça. É aí que começa a tramita a ação penal. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. 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