Alvo do Gaeco mandou família para o Japão na conta da CBF, apontou CPI da Nike
Não é de hoje Francisco Cezário de Oliveira, 77, chama a atenção em investigações.
Não é de hoje Francisco Cezário de Oliveira, 77, chama a atenção em investigações. Há 23 anos, o "todo poderoso" do futebol de Mato Grosso do Sul, foi parar na CPI da Nike, a primeira Comissão Parlamentar de Inquérito aberta para investigar a gestão do esporte no Brasil. O homem que acumulou 33 anos no comando da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) "invicto", apesar de já ter até sido condenado por desvio de recursos da entidade e ser apontado como gestor no mínimo controverso, foi alvo nesta semana da Operação Cartão Vermelho. Após 20 meses de investigação, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) levou Cezário para a cadeia por suspeita de comandar também esquema para embolsar o dinheiro para o fomento do esporte. Outros seis "jogadores" foram levados junto ao "mandante" – dentre eles, quatro sobrinhos e um sobrinho-neto. Na sala de troféus do presidente da FFMS, além do título de responsável pelo 3º pior futebol do país – conquistado em 2023 –, há a lembrança de 2001, quando teve de depor na Câmara dos Deputados para explicar porque a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) havia arcado com as despesas da viagem ao Japão de Umberto Alves Pereira, sobrinho e "braço direito" de Cezário ao menos desde 1976, quando o tio tornou-se prefeito de Rio Negro, no interior do Estado. Em dezembro de 1998, "Beto", a esposa e os três filhos foram para outro lado do planeta, ao custo de R$ 11.790,81 – o equivalente a 90 salários-mínimos à época – pagos pela CBF à empresa SBTR, responsável pela compra de passagens aéreas para os jogos da Seleção Brasileira, comissão técnicas e membros da confederação. À CPI, Cezário alegou desconhecer que a viagem do sobrinho e família havia sido paga pela CBF. Umberto Alves Pereira (cuja esposa é descendente de japoneses, conforme informação do Francisco Cezário) viajou ao Japão, junto com Clarisse Pereira, Daniele Pereira e Marcelo Pereira, com despesas pagas pela CBF à empresa SBTR (Stella Barros), num custo de R$ 11.790,81. Trata-se de informação proveniente da contabilidade da CBF (ver Anexo Cópias de Notas da SBTR), quando da visita da CPI à sede daquela entidade. Francisco Cezário alega desconhecer se foi a CBF que pagou a viagem", diz o texto do relatório divulgado em junho de 2001. Ele também não explicou o motivo da viagem, mas naquele mês, a final do Mundial de Clubes – entre Vasco e Real Madrid – aconteceu no Japão. Financiamento político – Foram dados levantados pela investigação feita pela CPI que renderam a Cezário condenação em 2009 por apropriação indébita. Mas não por causa da viagem ao Japão. A comissão investigou a relação estreita da CBF com política e como os repasses para as federações aumentavam em anos eleitorais para as federações cujos dirigentes também estavam em campanha, como foi o caso do ano 2000, quando Cezário se candidatou a prefeito de Rio Negro – cidadezinha a 150 km da Capital sul-mato-grossense. Embora tenha terminado com a pecha de jogo da Seleção Brasileira: com "muita expectativa, muita vaidade e pouco resultado", conforme definiu a Revista Época em retrospectiva, a CPI colocou Cezário na mira de outra investigação. Deputados encaminharam o relatório à Receita, ao Ministério Público Federal, ao Ministério Público de Mato Grosso do Sul e ao MP do Tribunal Regional Eleitoral, e o dirigente acabou alvo de inquérito da Polícia Federal e depois, denúncia oferecida pelo MPF. Cezário já havia ocupado o cargo de prefeito no município, entre 1976 e 1983, e foi eleito novamente, em 2000, pelo PSDB, com 1.656 votos – 48% do eleitorado rio-negrense que foi às urnas. A suspeita surgiu porque a CBF aportou R$ 15 mil – o equivalente a 99 salários-mínimos da época – para a propaganda eleitoral do "dono da bola" em MS. O sobrinho que foi ao Japão também é personagem nessa história. De acordo com a CPI, além da doação oficial, registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), entre 30 de agosto e 20 de setembro de 2000, foram emitidos quatro cheques da CBF em favor de Umberto, totalizando R$ 46.000,00 – o mesmo que 304 salários-mínimos naquele ano. À época, o presidente da FFMS só explicou que o sobrinho era tesoureiro voluntário da entidade. "Segundo depoimento do Francisco Cezário, Umberto Pereira é seu sobrinho e funcionou como tesoureiro do município de Rio Negro de 1977 a 1983, sendo atualmente vice-presidente de Finanças e Patrimônio da Federação Sul-matogrossense de Futebol", diz o relatório da comissão parlamentar. A condenação se deu ainda porque descobriu-se que em, entre 1999 e 2000, o dirigente teria transferências de valores em benefício próprio. O prejuízo comprovado, conforme a decisão judicial de 2009, era de R$ 56.610,00 – 374 vezes o valor do salário-mínimo. Oito anos depois da CPI, o presidente da FFMS foi sentenciado a 4 anos de prisão. A condenação foi mantida em 2ª instância, mas Cezário continuou recorrendo e acabou revertendo a situação na Justiça. A CPI – Ainda conforme registrou a Época, a comissão teve 237 horas e 16 minutos de reuniões na Câmara dos Deputados, com 125 depoentes, entre eles Ricardo Teixeira, então presidente da CBF; Mario Jorge Lobo Zagallo, ex-técnico da Seleção; Ronaldo, ainda então atacante da equipe do Brasil. Da investigação, contudo, conforme avaliou a imprensa esportiva nacional, não saiu a prometida reforma na gestão futebol. Cartão Vermelho – Nesta terça-feira (21), além de prender Cezário, o Gaeco vasculhou a casa do presidente – imóvel de alto padrão, localizado na Vila Taveirópolis, na Capital – e agentes apreenderam mais de R$ 800 mil em espécie. Contra ele há mandado de prisão preventiva (por tempo indeterminado). Como é advogado com registro ativo, ele foi levado para cela especial no Presídio Militar Estadual. A lista de presos tem ainda Aparecido Alves Pereira, Francisco Carlos Pereira, Umberto Alves Pereira, Valdir Alves Pereira – que são irmãos, e sobrinhos de Cezário –, além de Marcelo Mitsuo Elzoe Pereira, filho de "Beto", e Rudson Bogarim Barbosa, funcionário da FFMS. De acordo com o Gaeco, braço do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, a ofensiva desbaratou organização criminosa voltada à prática de peculato, estelionatos, falsidades documentais, lavagem de dinheiro e delitos correlatos. Em 20 meses de investigação, o Gaeco constatou que um grupo desviava valores, provenientes do Estado (via convênio, subvenção ou termo de fomento) ou mesmo da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), em benefício próprio e de terceiros. "Uma das formas de desvio era a realização de frequentes saques em espécie de contas bancárias da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul – FFMS, em valores não superiores a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), para não alertarem os órgãos de controle, que depois eram divididos entre os integrantes do esquema", informou a nota do MPMS. Nessa modalidade, verificou-se que o grupo fez mais de 1.200 saques, que ultrapassaram o total de R$ 3 milhões. A organização criminosa também contava com esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado em jogos do Campeonato Estadual de Futebol. O esquema de peculato tinha "cashback", numa devolução criminosa de valores. Ao todo, os valores desviados da FFMS, no período de setembro de 2018 até fevereiro de 2023, superaram R$ 6 milhões. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
Fonte: Campo grande News