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Pela 1ª vez, brasileiros que estavam na Cisjordânia são resgatados

A aeronave VC-2 (Embraer 190), cedida pela Presidência da República, que pousou na manhã desta quinta-feira (2) na Base Aérea de Brasília, foi a nona que regressou ao Brasil pela Operação Voltando em Paz, do governo federal, desde o início das hostilidades no Oriente Médio.


Jalil Abdel e Mahmoud Abdel Aziz no Brasil - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na outra ponta da bandeira verde e amarela, outro resgatado contemporâneo de Jalil, também com 70 anos, o palestino Mahmoud Abdel Aziz, sentiu que estava correndo perigo naquele território. Agora, Mahmoud sente gratidão por ter voltado ao Brasil, depois de uma temporada de seis meses na Cisjordânia. "É muito gostoso, é bom demais. Graças a Deus, que a gente tem a honra de ser brasileiros. Nós somos brasileiros. Agradecemos muito à nossa pátria, ao nosso pessoal, à Marinha, às Forças Armadas."

Ao lado do avô, o brasileiro Mohammed Mahmoud, de 11 anos, voltará a Foz do Iguaçu (PR), após sair da casa que a família deixou na Cisjordânia. "Voltar para o Brasil é muito legal. Aqui, fico com meu pai, meu avô e minha avó".

Outro palestino, Mahmoud Salim, de 43 anos, retornou com os filhos de 15, 13 e 7 anos e a esposa jordaniana, naturalizada brasileira, após ter passado dois anos em Ramala. O palestino conta que foi visitar familiares em outra cidade da Cisjordânia e não conseguiu retornar para casa. Pesou da decisão de Mahmoud de voltar a São Paulo, onde já morou por oito anos, a piora da situação na Cisjordânia, desde o início do conflito na região. "Se você quiser passar para outra cidade, está perigoso. Ao lado da minha casa, jogaram bombas, balearam o pescoço de um cara. Perdi dois amigos. Agora, lá, está difícil. Eles colocam o [posto de] controle na saída e, às vezes, batem no pessoal por nada."

"Se o consulado [do Brasil] não ajudasse a gente, nunca passaríamos na fronteira. A gente passou na fronteira da Jordânia porque estava no carro do consulado à frente do ônibus e eles passaram a gente no controle. Fiz contato com a embaixada e falei estou com medo, está perigoso e preciso voltar do Brasil logo, porque estou com medo, e pela minha criança", descreveu Mahmoud Salim.

Já Amer Azis, de 40 anos, voltará a Foz do Iguaçu (PR), acompanhado dos quatro filhos, após ter ficado dois meses na Cisjordânia, onde os filhos moravam. No colo Amer, o pequeno Tarek e a esperança de melhores dias. "Depois que a gente passou tudo lá, com o que está acontecendo e sendo visto por todos, a situação ficou bem complicada. Mas, vamos ver, se Deus quiser, a situação vai melhorar para poder voltar a ter uma segurança maior. Porque, hoje, está complicado. Se acalmar, poderemos voltar. Se não acalmar, vou ficar aqui [no Brasil].

A única passageira que vai morar no Distrito Federal, Nazmieh Mohamed, de 72 anos, foi recebida pelos filhos, no desembarque tradicional do Aeroporto de Brasília. Ela relatou muito medo. "Tem muito brasileiro na Faixa de Gaza e ninguém está seguro lá". Entrevista foi dada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom).

Assistência médica e psicológica

Antes do pouso, o tenente-coronel Garcez, da FAB, informou sobre a situação de vulnerabilidade emocional de alguns passageiros vindos da Cisjordânia, pelo fato da região também ter sofrido com ataques militares e restrições. "Então, é uma condição até um pouco diferente do pessoal que veio de Tel Aviv [Israel]. E não tão crítica como a situação do pessoal que está em Gaza", descreve.

Por isso, durante o voo, os passageiros vindos da Jordânia, tiveram assistência médica e psicológica de profissionais da FAB. A bordo, foram realizadas 13 consultas entre médicas e psicológicas, devido a existência de pessoas com comorbidades (doenças) prévias, que requeriam cuidados especiais.

Do ponto de vista psicológico, o atendimento junto a alguns passageiros resgatados que necessitavam de assistência, foi feito para aliviar a ansiedade, a dar perspectivas que não os lembrassem o conflito da região. Para desvincular os passageiros do ambiente da guerra, a aeronave ainda promoveu espaços lúdicos para as crianças desenharem com brinquedos e blocos de montar.

O capitão médico da Força Aérea Brasileira, Gustavo Messias Costa, que fez parte da tripulação descreveu a prestação da assistência com foco no bem-estar e saúde mental de passageiros e tripulantes. "Foi fundamental também a equipe contar com a presença de uma psicóloga a bordo. Esse trabalho multidisciplinar foi fundamental durante essa missão".

Médico Gustavo Costa acompanhou brasileiros Marcelo Camargo/Agência Brasil

O capitão médico ficou emocionado ao relatar que se sente honrado por cumprir os juramentos feitos quando se tornou médico e quando entrou nas forças armadas. " Para mim, não tem preço. Não vai ter qualquer coisa material no mundo que me traga essa sensação de ver uma criança sorrindo, um idoso chegando e falar que essa terra é maravilhosa para ele, que aqui a gente tem paz, que aqui a gente tem condições de viver com futuro", revelou Gustavo Costa.

Balanço

Com o pouso da nona aeronave VC-2 (Embraer 190), são 1.445 passageiros e 53 pets resgatados em voos que já regressaram ao Brasil.

As aeronaves que já pousaram no Brasil são:

KC-30 (Airbus A330 200): 211 passageiros

KC-30 (Airbus A330 200): 214 passageiros + 4 pets

KC-390 Millennium (Embraer): 69 passageiros

KC-30 (Airbus A330 200): 207 passageiros + 4 pets

KC-30 (Airbus A330 200): 215 passageiros + 16 pets

KC-30 (Airbus A330 200): 219 passageiros + 11 pets

KC-390 Millennium (Embraer): 69 passageiros + 9 pets

KC-30 (Airbus A330 200): 209 passageiros + 9 pets

VC-2 (Embraer 190): 32 passageiros TOTAL: 1.445 passageiros e 53 pets

De acordo com a FAB, a aeronave VC-2 (Embraer 190), cedida pela Presidência da República, retornou ao Brasil para manutenção rotineira que estava previamente agendada. No lugar, outro avião de mesmo modelo foi para o Cairo (Egito) e, no momento, aguarda autorizações para resgatar brasileiros que estão na Faixa de Gaza.

Ainda não há previsão de pouso no Brasil desta décima aeronave.

Até o momento, na lista dos mais de 576 estrangeiros autorizados a deixar Gaza, não há brasileiros.

O governo brasileiro já doou purificadores de água portáteis; kits de medicamentos; insumos; e mantimentos para assistência humanitária, aos brasileiros moradores de territórios palestinos.

Agência Brasil

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