O Escritório da ONU para Assuntos Humanitários (OCHA) informou que, desde o dia 7 de outubro, 545 pessoas de 74 famílias palestinas foram deslocadas de 13 comunidades em meio ao aumento da violência na Cisjordânia. A instituição da ONU registrou ainda 86 ataques de colonos contra palestinos desde o dia 7.
O regime político-jurídico na Cisjordânia tem sido denunciado como um regime de apartheid por organizações internacionais de direitos humanos, como a Anistia Internacional e o Human Rights Watch.
Em março de 2022, o relator especial da ONU para direitos humanos, Michal Lynk, também classificou como apartheid a situação nos territórios ocupados por Israel na Palestina.
"O sistema político de governo arraigado no território palestino ocupado, que confere a um grupo racial-nacional-étnico direitos substanciais, benefícios e privilégios, ao mesmo tempo que sujeita intencionalmente outro grupo a viver atrás de muros, postos de controle e sob um regime militar permanente sem direitos, sem igualdade, sem dignidade e sem liberdade satisfaz o padrão probatório prevalecente para a existência do apartheid", afirma o documento.
As autoridades israelenses rejeitam essa avaliação. Em resposta ao relatório da ONU, o então embaixador israelita Meirav Eilon Shahar citou que o texto não leva em conta a insegurança na região provocada pelos grupos palestinos armados.
"O parecer busca deslegitimar e criminalizar o Estado de Israel pelo que ele é: o Estado-Nação do Povo Judeu, com direitos iguais para todos os seus cidadãos, independentemente de religião, raça ou sexo."
A professora de pós-graduação em relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais Rashmi Singh, que estuda a questão árabe-israelense há 20 anos, explica que a Cisjordânia é subdividida em três áreas distintas, em consequência dos Acordos de Oslo II, assinados em 1995.
As áreas de tipo A (compreendem cerca de 18% da Cisjordânia) estão sob jurisdição administrativa e militar da Autoridade Palestina, as áreas tipo B (22% da Cisjordânia) têm os serviços civis (escolas, hospitais) administrados pela Autoridade Palestina e a segurança por forças israelenses. Já as áreas de tipo C (60% da Cisjordânia) são totalmente controladas pelas autoridades de Israel.
Rashmi contou que os assentamentos ocupam uma posição estratégica, geralmente nas terras mais altas da Cisjordânia.
"Os assentamentos são para não deixar a população palestina em uma área só, mas para dividir os territórios e as populações dos palestinos em ilhas com a presença dos israelenses em todos os lados. É uma estratégia para anexar o território."
Segundo o relator especial da ONU para direitos humanos Michal Lynk, Israel criou, em 50 anos, 300 colônias exclusivamente judaicas. "Todos elas ilegais, com 700 mil colonos judeus israelenses que vivem agora em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, no meio, mas à parte, de 3 milhões de palestinos", informa o documento. O Conselho de Segurança da ONU, em resolução aprovada em dezembro de 2016, também afirma que os assentamentos não têm validade jurídica e reiterou a exigência de que Israel cessasse imediata e completamente todas as atividades de colonização no território palestino ocupado.
*Nome fictício usado a pedido do entrevistado
Fonte: Agência Brasil