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Entenda como acordos de Israel podem ter influenciado ataque do Hamas

O ataque surpresa do Hamas tem sido interpretado como uma tentativa de frustrar os acordos que Israel costurou com o mundo árabe nos últimos anos.

Por Propaga News em 09/10/2023 às 17:01:24

Caladrin, pesquisadora da USP, lembra que o Hamas tem como objetivo fim do Estado de Israel Foto: Arquivo pessoal

Caladrin acrescentou que o Hamas ataca sabendo que Israel vai revidar, esperando usar as imagens para sensibilizar a comunidade internacional e, em especial, o mundo árabe. "Quanto mais palestinos morrem mais o Hamas ganha na sua batalha porque a imagem que vai correr no cenário internacional são os palestinos sofrendo. Para os estados árabes não vai ser bem-visto eles assinarem esses acordos com Israel."

O Estado Palestino

O doutor em Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) Robson Valdez acrescentou que, assim como os Acordos de Abraão, os acordos da China no Oriente Médio por meio dos investimentos da chamada Rota da Seda pressionam para uma maior estabilidade política na região, o que o ataque do Hamas acaba por desestabilizar. A Rota da Seda é um projeto do governo chinês de integração econômica com o mundo.

Doutor da UFRG Valdez diz que acordos da China no Oriente Médio pressionam para maior estabilidade política na região Foto: Arquivo pessoal

"O conflito desestabiliza todos esses planos de acomodação e o que a gente vê agora é realmente o contrário. É uma tentativa desses atores (China, Arábia Saudita) de reafirmar que é essencial que a Palestina tenha um Estado soberano que viva harmonicamente com o Estado israelense. A gente percebe que há uma tentativa de reforçar esse consenso que é um consenso da comunidade internacional," explicou.

Valdez lembrou que os palestinos tentam construir um Estado a partir do direito internacional com apoio de outros países, "mas que Israel, dada uma assimetria militar, avança sistematicamente sobre todos os territórios palestinos contrariando uma série de medidas e resoluções."

O especialista acredita que essa situação fortalece a posição do Hamas. "Muitos acreditam que só Hamas, através desse movimento de resistência, seria capaz de criar um Estado porque as vias da negociação já se esgotaram," concluiu.

Para o pesquisador Maurício Santoro, o Hamas deve ter imaginado que os acordos dos israelenses com os árabes poderiam consolidar a ocupação de Israel em territórios reivindicados pelos palestinos.

"Provavelmente esses acordos acabariam levando a um isolamento do Hamas, sendo deixados de lado por esses governos ansiosos em fazer bons negócios e estabelecer relações cordiais com os israelenses," acrescentou.

Assentamentos israelenses

Ao mesmo tempo que Israel avançava nas negociações com os estados árabes, a relação com os palestinos se deteriorava. "O que a gente viu nos últimos anos foi uma deterioração dessas relações de Israel com a Autoridade Palestina motivada, entre outras coisas, pela expansão dos assentamentos, tanto na Jordânia quanto em Jerusalém oriental, e sobretudo agora no governo Netanyahu essas relações foram para o fundo do poço," destacou Maurício Santoro.

A assessora do Instituto Brasil-Israel Karina Caladrin concorda que a construção dos assentamentos de Israel alimenta o conflito atual. Mas acrescentou que a comunidade internacional, incluindo os países árabes, tem responsabilidade no conflito.

"Há uma responsabilidade, obviamente, imediata de Israel pela perpetuação do conflito, pelo tratamento dos palestinos, pelos assentamentos, mas também há uma completa inação das potências internacionais e dos países árabes," explicou.

Para Caladrin, apesar da criação do Estado palestino ser a saída para a crise, essa solução parece cada vez mais distante, ainda que entrasse um novo governo em Israel mais favorável aos palestinos. "Enquanto houver o Hamas como um grupo militarizado financiado pelo Irã, não tem como criar um cenário de paz porque eles também não vão aceitar dois estados."

Fonte: Agência Brasil

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