A frase de Santos, falada em 1994 na USP, pode ser vista em um vídeo de dois minutos de duração que é apresentado logo no início da ocupação. E mostra um pouco sobre essa personalidade que é pouca explorada no ensino brasileiro. "Imagino que a pauta de geografia, dentro das escolas, tem ficado muito no lugar do território, de relevo e de topografia e nas questões espaciais. Mas o Milton tem uma amplitude no debate e é uma figura controversa", disse Rosa.
"Milton Santos foi formado em direito, atuou como jornalista, foi professor, geógrafo e também gestor público. Sua obra se consolida justamente em como olhar a geografia além do território, nesse espaço sempre em movimento e transformação. E ele tem esse olhar dentro do lugar do cidadão, em como esses indivíduos, com suas múltiplas economias e múltiplos territórios, se enxergam como cidadãos", acrescentou.
Após a apresentação do vídeo de abertura, a mostra percorre o processo criativo de Milton Santos por meio de uma vitrine que apresenta manuscritos, textos datilografados por ele e livros de sua autoria. Uma mesa de leitura recebe aqueles que queiram se aprofundar no universo de Santos, lendo os pensamentos que publicou.
Ao lado dessa mesa, uma projeção apresenta um diagrama de conceitos, com ilustrações de temas como espaço geográfico, economia urbana, globalização e o lugar do cidadão. A ideia é estabelecer um diálogo das teorias de Milton Santos com a vida cotidiana do século 21.
O percurso expositivo segue por uma parede onde é apresentado um painel biográfico, contando a história de Santos por meio de fotos, depoimentos em vídeo, matérias de jornais e objetos pessoais. Uma das fotos mostra ele recebendo o Prêmio Vautrin Lud, em 1994, considerado o Nobel da geografia. É aqui também que se relembra que o intelectual foi uma das vítimas da ditadura militar brasileira, tendo vivido em exílio por 13 anos. "Ele tinha uma perspectiva de ficar seis meses na França e acaba ficando 13 anos mudando de país, o que para ele foi muito difícil. Trazemos, na exposição, uma mala dele de viagem, com que ele se deslocava para esses territórios. Mas esse comportamento e essa experiência influenciaram muito em como ele se enxergava como cidadão brasileiro e em seu trabalho", disse Rosa.
A mostra traz ainda um espaço dedicado à discussão sobre a questão racial. "A pauta racial ele vivenciava sempre, mas não era sua militância. Ele dizia que não queria ser militante de nada, mas que era sempre impactado por isso. Mesmo assim, ele participou de congressos sobre questões étnico-raciais, e palestrou em um grupo de consciência negra na USP. E ele dizia que o movimento vem de baixo, das periferias."
A exposição se encerra com uma projeção sobre uma representação de um mapa de Brotas de Macaúba, cidade onde Milton Santos nasceu. Aqui é possível ver a relação da obra do homenageado com a cidade e a periferia, a forma como ela tem sido apropriada pelas novas gerações e a importância de suas teorias para a construção do futuro.
A Ocupação Milton Santos se completa com outras atividades, além do espaço expositivo. Entre elas, com o curso Milton Santos: cidadão do mundo e geógrafo das quebradas, que segue a trajetória socioespacial de Milton Santos e os principais conceitos desenvolvidos em sua perspectiva teórica. O curso apresenta aspectos da vida e obra do homenageado e mostra alguns dos principais conceitos e ideias do autor, fornecendo subsídios para as práticas pedagógicas em sala de aula. O cadastro e o acesso para o curso devem ser realizados pela plataforma https://polo.org.br/.
"A exposição transborda para outras plataformas, como as plataformas digitais. Temos um curso destinado para professores, mas também para interessados sobre a obra de Milton Santos. Temos também a biografia dele sendo disponibilizada na plataforma Ancestralidades e uma plataforma de vídeo em que será apresentado um documentário de Silvio Tendler, contando a trajetória do professor", disse Jader Rosa.
A mostra fica em cartaz até o dia 8 de outubro. Mais informações sobre a Ocupação Milton Santos, que tem entrada gratuita, podem ser obtidas no site do Itaú Cultural.
Fonte: Agência Brasil