Artistas não passam pano e sugerem até boicote a amigos de Caio
A morte da jornalista Vanesa Ricarte, de 42 anos, se transformou não em pedra no sapato, mas em uma verdadeira colina na frente de muita gente que agora precisa se explicar.
A morte da jornalista Vanesa Ricarte, de 42 anos, se transformou não em pedra no sapato, mas em uma verdadeira colina na frente de muita gente que agora precisa se explicar. Falar que o culpado e único a ser responsabilizado pelo crime é o músico Caio Cesar Nascimento Pereira, de 35 anos, é falar o óbvio. Presume-se, a partir daí, que o Estado e uma sociedade minimamente saudável tenham meios e ferramentas para impedir que o criminoso concretize seus atos. Para muitos, o que se viu no caso da Vanessa foi a falência desse modelo de organização. Para além da negligência policial alegada pela própria vítima em um áudio angustiante onde ela parece estar sendo empurrada para morte, muitos questionaram o círculo de amizades de Caio. O músico era conhecido por quase todos os colegas de trabalho e alguns até no esfera pessoal. Essas pessoas não sabiam de nada? Tantas passagens policiais e na Justiça e ninguém nunca ouviu falar do lado violento de Caio? Se sabiam e ainda conviviam com ele, isso os torna cúmplices? Para alguns sim, para outros isto é relativo. Renan Stramandinolli, produtor musical, expressou choque ao saber do histórico do agressor. "Eu já contratei esse cara várias vezes, ele esteve na minha casa, mas nunca soube de nada. Agora, algumas pessoas sabiam que ele tentou esfaquear a própria mãe. Se eu soubesse disso, ele nunca teria pisado nos meus eventos." Pedro Fattori, do grupo Vozmecê, destacou que o envolvimento de Caio com drogas era conhecido, mas sua violência doméstica não. "Muita gente sabia das drogas, mas nunca se falava da violência. Precisamos boicotar e não separar o pessoal do profissional." E ainda completa: "Tem que ter um boicote (aos amigos artistas que sabiam) e não separar artista da pessoa. Existem outros profissionais da cena que podem suprir a falta destes amigos. Namaria, também do Vozmecê, refletiu sobre capacidade de manipular do agressor para para imaginas como ele pode ter mentido para os amigos. "Ele se relacionava com mulheres instruídas e manipulava quem estava ao seu redor. Muitos passam pano para o lado profissional. Agora, não coloco a mão no fogo por ninguém." O artista Du Mato trouxe uma reflexão sobre a construção social da masculinidade. "Se pergunto se você conhece uma mulher vítima de agressão, a resposta é sim. Mas se pergunto se conhece um agressor, a resposta geralmente é não. Isso acontece porque a sociedade ensina os homens a desrespeitar e deslegitimar as mulheres. Essas microviolências diárias escalam para o feminicídio." Por fim, Rafael da banda "On the Road" chegou a falar de Vanessa em uma de suas apresentações e resumiu a dor e a revolta pelo casp. "Vanessa é mais uma entre tantas mulheres que pediram ajuda e não foram protegidas. A violência contra a mulher não pode ser ignorada, relativizada ou tolerada. Vanessa não pode mais falar. Nós devemos falar por todas elas." Entenda - A jornalista Vanessa Ricarte, que hoje completaria 43 anos, havia procurado a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) horas antes de ser assassinada, na quarta-feira, 12 de fevereiro. Lá, denunciou Caio por divulgação de imagens íntimas e também já estava com medo dele devido às ameaças. Por isso, ela também pediu medida protetiva e, naquela tarde, seguiu até o imóvel onde morava a fim de buscar pertences até que Caio fosse notificado pela Justiça sobre a medida protetiva. Mas não houve tempo. Discussão entre o casal ocasionou em tragédia e a jornalista foi morta pelo músico com três facadas no coração, na casa do Bairro São Francisco, na Capital. O amigo de Vanessa estava no imóvel e correu para ajudar, mas não deu tempo e a morte foi constatada. Falha no atendimento - Após a morte, a polícia confirmou que Vanessa recusou ficar abrigada na Casa da Mulher Brasileira e não informou que retiraria pertences no imóvel. Contudo, áudio da jornalista enviado a um amigo após ser atendida pela Deam mostra que a própria polícia induziu ela a voltar para casa onde foi brutalmente assassinada. O delegado-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Lupérsio Degerone, afirmou que por orientação do governador do Estado, Eduardo Riedel (PSDB) e da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), foi instaurado um procedimento para apurar a situação. O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul admitiu, em nota, que há falhas na rede de proteção de mulheres vítimas de violência doméstica e que possíveis erros no atendimento que antecedeu a morte da jornalista Vanessa Ricarte. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
Fonte: Campo grande News