Campo grande News
Estou contando essa história sorrindo, porque, por mais que as notícias não sejam boas para mim, eu sou muito corajosa. Ainda tenho planos para o Dia das Mães, para o Dia dos Namorados e até para dezembro do ano que vem. Hoje em dia, não tenho nem coragem de pedir a cura, porque, às vezes, a pessoa para de viver esperando um milagre. Mas eu vou viver o agora e, quando o milagre chegar, vai me encontrar vivendo. E, se a morte chegar, ela também vai me encontrar vivendo". Aos 32 anos de idade, a empreendedora Raíza Vieira, hoje com 34, precisou enfrentar a dura realidade ao descobrir que seu câncer, já em estágio terminal, não tinha mais cura. Na época, entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, ouviu da médica que tinha apenas 18 meses de vida, mas, em vez de se render, decidiu viver todos os dias como se fossem o último e fazer de cada segundo viva um "milagre". Ela relata que, por estar em um nível muito avançado da doença, foi desenganada pelos médicos, mas, mesmo assim, nunca deixou de sonhar. Nos últimos dois anos, viu muita coisa em sua vida mudar drasticamente, principalmente durante os meses que passou em uma cadeira de rodas. A doença começou a se manifestar com um caroço na mama, durante a amamentação de sua filha mais nova, em 2021. Até receber o diagnóstico, ela relata que foram muitas idas e vindas a consultas com médicos e salas de exames para tentar identificar o problema. Raíza relata que foram necessários muitos exames, pois inicialmente nenhum apontava alguma anomalia, apesar das dores intensas que sentia. Até que, após uma ressonância, foram identificados diversos tumores, que apontaram uma série de lesões por todo o corpo, principalmente na região lombar e na coluna cervical. A primeira 'confirmação' da doença veio em 23 de dezembro de 2022, às vésperas do Natal. "Eu fui uma das últimas a ser atendida, era final da tarde, já estava aquele clima de festa. Quando peguei o resultado, fui embora para casa de ônibus, e, ao ler [o exame], quando joguei no Google, estava lá: 'neoplasia maligna', em estágio 5, um câncer terminal sem chances de cura. Eu lembro que chorei muito no ônibus. Só que era Natal, os parentes tinham vindo de outra cidade, estava todo mundo em casa e eu não queria estragar a noite de Natal de ninguém, então guardei para mim", relata. Ela conta que "escondeu" o possível diagnóstico da família até ter certeza, mas o inevitável aconteceu, e, em questão de semanas, viu seu mundo virar de cabeça para baixo. Durante o tratamento, precisou tomar bastante morfina para a dor e chegou a perder 25 quilos em apenas 40 dias. Por conta do estado debilitado que a doença lhe causou, Raíza relata que as consultas eram feitas de maneira online, e sua mãe era responsável por realizar todas as "correrias", como buscar os remédios, por exemplo. Este foi o momento em que ela mais precisou contar com a família para ter forças durante o tratamento. Raíza relata que passou vários meses sem conseguir mexer nem um dedo sequer e sem poder ter contato com as filhas. Ela dependia de ajuda para tudo, pois não podia fazer muito esforço por conta dos tumores. Nesse período, compartilha que perdeu inúmeras datas comemorativas e apresentações escolares, por estar acamada devido à doença. "Foram dias escuros, dias em que eu pedia para morrer porque era muita dor. Eu cuspia sangue, ficava muito fraca. Eu não tinha muito convívio com as minhas filhas, porque tive que me mudar para a casa da minha mãe, que tinha mais espaço, e adaptar todo o meu quarto como se fosse um quarto de hospital. Então, minhas filhas tiveram que dormir em outro quarto, meu marido também, e eu ficava sozinha", relata. Passados os dias "sombrios" de Raíza, a empreendedora conta que descobriu dentro de si uma vontade de viver nunca antes sentida. Ela passou a viver cada momento com intensidade, planejar e realizar sonhos e viagens, além de ficar ainda mais próxima da família. A primeira coisa que ela fez, ao recuperar um pouco mais da saúde, foi viajar para a cidade de São Paulo com a família. Lá, visitou vários pontos turísticos, fez inúmeros registros fotográficos na Avenida Paulista, visitou museus e até andou de metrô. "Até agosto [de 2023], eu sofri pra caramba, e a minha recomendação era não fazer nada, não fazer nada, mas eu fui viajar, passear com a minha família, porque agora eu vivo, desde então, como se fosse o último dia. Eu não deixo nada para depois, não procrastino e agradeço mais do que O ano de 2023 tinha tudo pra ser o pior ano da minha vida. Mas pra falar a verdade, foi o melhor. Porque por mais que tivesse tudo isso acontecendo, eu me conectei ainda mais com a minha família, com meus amigos, com Deus. Mesmo em cadeira de rodas, mesmo perdendo um monte de coisa, em contrapartida eu estive presente 100% com as minhas filhas, meu marido. Eu fui muito amada todos esses dias, eu fui feliz de verdade e aproveitei cada minuto. Eu coloco um pouco de emoção e um pouco de romance na minha história, porque, por mais que seja muito difícil, sou muito otimista. Por conta de toda a complexidade do tratamento, Raíza também precisou deixar o emprego. No entanto, ela encontrou no empreendedorismo e no artesanato uma maneira de se sentir viva e ocupar a mente fazendo algo que gosta. Atualmente, ela tem uma marca de velas aromáticas e lembrancinhas artesanais chamada Aromatiza. Sua rotina consiste em arrumar as filhas para a escola, preparar o café, fazer aulas de artesanato e dedicar um tempo às encomendas da loja. Por conta do câncer, todas as atividades que ela desenvolve são bastante limitadas, então ela precisa parar para descansar com frequência. Raíza finaliza declarando que tem muita fé na cura, mas, até lá, vai seguir vivendo. Ela tem grandes planos para sua loja de artesanato, sonha em criar um site, produzir fotos profissionais dos produtos e ver a marca crescer. "Nas minhas condições, qualquer outro paciente oncológico talvez não se permitisse sonhar. Eu não só sonho, como planejo como se fosse acontecer. A minha vida está nas mãos de Deus, eu sou muito grata, eu tenho muita fé", expressa. Raíza decidiu utilizar as redes sociais para compartilhar sua rotina e criar uma espécie de "diário" como paciente oncológica. Quem quiser acompanhar, basta acessar o perfil @raizavieira9. Já para conhecer os produtos que ela comercializa, o perfil é @aromat.iza. Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui) . Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. 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